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SARAIVA, Alberto. Livearth

Livearth. Rio de Janeiro: Centro Cultural Furnas, 2008.

Livearth é um projeto que a artista Tina Velho vem desenvolvendo há longa data, elaborando trabalhos que abordam a noção de memória e paisagem de forma abrangente, através da Web. Seu interesse por questões relativas à memória recai sobre a noção de paisagem e tempo. Esta paisagem é múltipla e abrange a maior quantidade de visualizações do planeta. Conectada à rede via internet, Tina desenvolveu um formato de pesquisa, experimentação e apresentação de paisagens de todo mundo, captadas através de câmeras de vigilância instaladas ao redor do planeta. O fluxo permanente das cidades, pessoas, animais, mares, montanhas, é capturado, durante o dia e à noite, em seu tempo científico e estético. Para a Artista, “São momentos capturados no espaço/tempo que pretendem determinar e remeter à memória daquele lugar. Momentos que se repetem cotidianamente traçam a sua memória e se fazem reconhecidos em um primeiro olhar. Fala do fluxo do movimento cotidiano, de um ponto específico em uma rota qualquer.”

 

O sistema cada vez maior de câmeras de vigilância pública espalhadas pelo mundo e sua simultaneidade ao vivo é um fato que chega a redimensionar a realidade, que funciona como um panótipo virtual. Tina constrói uma configuração estética para abordar e transformar um sistema de vigilância em uma operação que veicula idéias relativas à memória e ao tempo. “A memória – segundo Bérgson- é o poder que o espírito possui de tornar presente o que, irrevogavelmente, já passou. A memória faz o homem mais forte que a própria realidade e é capaz de trazer de volta ao seu espírito o tempo/espaço, os quais estariam fadados ao esquecimento”. Daí que a memória, nesta obra, torna-se um largo de resistência sob um olho tecnológico que inspeciona os movimentos humanos. Se os aparatos tecnológicos são aparatos do espírito humano, então é necessário que eles sejam também redimensionados. Para isto, a artista vem construindo uma série de trabalhos que lidam com a idéia de composição orgânica do próprio mundo. Este mundo, que é tele transportado via web, reorganiza-se em função de pesquisas artísticas relacionadas a visões de mundo mais humanas e profundas; daí que Tina Velho vai apropriar-se dos fundamentos criados por Mondrian para veicular imagens de paisagens da urbe e do campo, capturadas infinitamente pelas câmeras de vigilância. Na obra Mondrian Tropical, por exemplo, cidades tropicais do mundo são incorporadas aos esquemas das pinturas de Mondrian e à sua lógica de construção do espaço, com linhas horizontais e verticais e cores primarias como elementos da gênese de tudo o que existe e que nos é próximo.

2010 - present

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